quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Trabalho artesanal: uma sapataria ou uma fábrica de sapatos

Hoje o dia foi intenso. Apresentei no Encontro de Negócios da Microempa (Associação das Empresas de Pequeno Porte do Nordeste do RS) um pouco sobre o meu trabalho a frente de um negócio criativo e artesanal.

Venho trabalhando há algum tempo para um despertar da valorização do ofício artesanal, querendo motivar um novo olhar sobre o potencial econômico, artístico, cultural e até turístico que o artesanato pode desenvolver.

Entre conversas e contatos, encontrei na Microempa um campo fértil para se disseminar ideias e tenho recebido apoio e incentivo a essa proposta como jamais imaginei receber de uma entidade empresarial.

O Encontro com Negócios é a nova versão do Café com Negócios que a entidade promove há bastante tempo. É um evento de network, troca de informações, contatos e experiências no intuito de gerar negócios. Toda edição tem uma empresa patrocinadora do Café, que adquire o espaço de 25 minutos para uma explanação mais detalhada de seu projeto antes das apresentações de todas as empresas em formato de rodada de negócio (1 minuto cronometrado para cada pessoa falar).

Quando a gente descobre nossa missão/vocação/destino/propósito/causa {ou seja lá o nome que você acredita} o Universo conspira a favor. Eis que eu fui contemplada com esse espaço em um sorteio realizado entre os participantes que mais compareceram nas edições de 2016. É ou não é uma sorte grande?

2017 começou então me desafiando a {mais do que tirar meu amor pelos bordados do campo das ideias} concretizar Um Pontinho - Bordados feitos a mão como um negócio. Ter uma empresa não é algo fácil {embora iniciar uma atividade com CNPJ tenha sido facilitada através da possibilidade de abertura de MEI}. Mais do que ter ideias e ideais transformados em produtos, uma empresa responsável deve ter um processo que a torne rentável, seja para reinvestir nela própria, em projetos, etc, seja pelo menos para custear a vida de quem se dedica a ela.

Montar a apresentação do Encontro de Negócios me fez refletir muito sobre isso, o que me forçou a pensar no meu trabalho de forma estratégica, porque quando alguém me pergunta o que eu vendo, eu tenho que saber o que responder. O bordado tem infinitas possibilidades de aplicação:

  • Desde a toalhinha de boca do bebê.

 

  • Até braceletes em metal:


O fato é que quando trabalhamos com algo artesanal é possível personalizar cada peça, planejar cada detalhe de cada encomenda e isso requer criatividade e principalmente TEMPO. A produtividade vem sendo perseguida pelo homem há bastante tempo, e a indústria ensina ao longo do tempo que processos otimizados e padronizados aumentam a capacidade de produção.

Usando uma referência de Andy Grove, a diferença entre uma fábrica de sapatos e uma sapataria, é que a última está preparada para servir qualquer cliente que entrar na loja, executando os trabalhos na ordem de chegada (built-to-order), enquanto a primeira funciona na base da previsão da demanda (built-to-forecast).

Prever uma demanda requer planejamento e conhecimento de produtos e clientes. Organizar antecipadamente a produção em uma série de ações padronizadas facilita a rotina e peças começam a "nascer" de forma ritmada, consequentemente há maior possibilidade de vendas e faturamento. Mas será que trabalhar dessa forma não perde o sentido do feito a mão? Até que ponto o exclusivíssimo do artesanal é importante?

Tenho pensado muito sobre isso, e confesso que a alternativa de trabalhar de forma automatizada me incomoda. Gosto de enaltecer o humano característico de cada peça de artesanato. Mesmo as imperfeições fazem sentido para mim {uma vez me incomodavam}. Mas ao mesmo tempo acredito que um negócio que não se sustente ou não gere valor aos envolvidos {inclusive valor financeiro} é inviável.

Estou ainda organizando esse novo momento que se apresenta, mas sei que algumas coisas já mudaram em minha rotina para que minha produtividade aumente. Para que a essência do artesanal não se perca e o negócio seja rentável e viável, acredito que uma mescla de sapataria e fábrica de sapatos será a solução. Encontrar esse equilíbrio, na minha opinião, será possível apenas se colocar em prática, testar, analisar e corrigir para então começar tudo de novo. 

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Bordadeiras que Inspiram #1

Eu gosto de ler, de assistir, de acompanhar, de compartilhar com gente que faz o que eu faço. Gosto de aprender, de contrapor, de me inspirar ou talvez não concordar, mas conhecer opiniões diferentes. Sem a menor dúvida conhecer o Clube do Bordado foi um grande marco em minha vida bordadeira.

Eu bordo desde pequena, mas aos poucos a vida e o trabalho foram empurrando essa minha paixão para "quando sobrava um tempinho" {e nunca sobra, não é mesmo?}. Como trabalho há bastante tempo com educação corporativa, estou o tempo todo ligada a termos corporativos, que muitas vezes deixam de lado o CPF que está por trás do CNPJ. Eu gosto {gosto não, amo} a ideia da busca por soluções dentro das empresas, dentro dos processos, na busca por produtos melhores, mas certamente isso somente será possível através das pessoas e se fizer sentido para as pessoas. Eu não conseguia encontrar uma conexão entre o meu trabalho e minhas habilidades manuais. Até que em 2015 conheci o trabalho desse Coletivo lindo. Seis jovens {e isso me chamou muito a atenção}, com trabalhos modernos, com visões modernas, com linguagem moderna, usando o bordado livre como forma de expressão e incentivando o empoderamento feminino.

Seis amigas, que se reuniam para bordar, e que encontraram nessa roda de conversas e pontos, sentido e propósito que precisavam compartilhar com o mundo. Gosto da ideia que elas frisam sempre de respeito pela diferença de cada uma, da abordagem de temas atuais através de pontos tradicionais, das possibilidades que o bordado oferece como terapia, da conexão que tantas mulheres tem com o bordado ao redor do mundo



Gosto de como encontram a beleza no dia-a-dia...

 


Gosto de como retratam a força com tanta delicadeza... 



Gosto da simetria dos pontos {mas também da assimetria quando necessário}, gosto de dizerem tanto sem necessariamente precisar falar algo... 



Me identifico com o trabalho dessas gurias por inúmeras razões, mas talvez a mais forte delas seja justamente o fato de usarem pontos de bordado como forma de expressão da alma, dos pensamentos, dos sentimentos mais pessoais que brotam em características tão femininas, tão humanas, tão minhas, tão nossas.

Clube do Bordado - Instagram - Facebook - YouTube

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Nobre guerreiro, admirável protetor

Entregue mais um enfeite de porta de maternidade. Mais um bebê que está para chegar a esse mundo tão cheio de possibilidades, que será recepcionado por pontinhos lhe desejando muita saúde e felicidade.

Álvaro, que significa: Nobre guerreiro, admirável protetor.

Vejam bem, quem me pediu para fazer essa almofadinha foi a Gabi, minha prima, para dar de presente. Parece que foi ontem que fiz a almofadinha com o nome dela para colocar na porta de seu quarto de bebê 💓. O tempo voa mesmo.

Para uma peça tão especial, decidi usar o linho e bordar nesse tecido é sempre um desafio prazeroso. O desafio inicia já no riscar: como os fios que formam o tecido são um pouco mais grossos do que o algodão, por exemplo, um fio acaba ficando mais longe do outro na trama, o que exige que se passe a caneta com mais cuidado para que o desenho fique compreensível.



No linho, os pontos se ajeitam melhor pela perpendicularidade da trama mas o tecido exige maior atenção para que os pontinhos sigam um padrão de tamanho, pois fica muito evidente se um ponto ficar muito diferente no meio do trabalho. 



Para preencher as letras do nome "Álvaro" eu utilizei o ponto haste.



A arte foi baseada na solicitação da Gabi, e então bordei a coroa dourada, utilizando o ponto matiz, ponto atrás, ponto pirulito e nó francês.

 


Os ramos tem ponto haste, na haste (: , e ponto lancé nas folhas.



Como disse, o linho tem suas exigências. Bordei a frase com o significado do nome com uma letra cursiva, mas, na minha opinião, não ficou legal. Se eu não gosto, prefiro desmanchar e fazer novamente. Regra básica do bordado: DESMANCHAR FAZ PARTE.



Preferi utilizar um gráfico letra com pontos para fios contáveis, explorando a característica do linho para fazer isso. E gostei muito mais do resultado.



Acabamentos em bainha aberta {o linho é especial para fazer isso} e a assinatura para registrar esse momento. 



O bordado foi feito em uma peça em formato de fronha, para facilitar a manutenção e limpeza, dessa forma, para lavar, basta retirar o pequeno laço em fita branca nº 00 que ata as partes frente e verso da capinha. Para pendurar, também fiz com fita nº 00 branca uma pequena alça removível, que, se futuramente o Álvaro ou a mamãe dele optarem em não utilizar mais como enfeite de porta, poderão agregar a decoração do quarto como uma pequena almofada, sem nenhuma característica do uso anterior. 



Para entregar um presente especial, o carinho e a dedicação se revelam nos detalhes da embalagem. 



Esse trabalho foi ainda acompanhado pelo desafio do Clube do Bordado, com a tag #100diasdebordado , que propõem que façamos uma sequência de 100 dias através de pontinhos, que possam nos inspirar umas as outras (ou uns ao outros, pq o bordado é democrático).

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